O evento de "esquenta" do Caldas Country Festival, em Caldas Novas (GO), parecia uma festa universitária — tanto pelo ambiente, quanto pelo público. Mas, no palco, um artista de apenas 20 anos atraía toda a atenção, como numa hipnose.
O show de Luan Pereira foi um espetáculo: ele canta (com uma voz surpreendentemente grave considerando a idade e o corpo esguio), dança e ainda impressiona com o look, que lembra uma estética meio igreja católica e meio artista pop. Mas com chapéu e cinto de fivela.
LP, como é conhecido, não dança sozinho: ele está acompanhado de um balé super sincronizado. Olhos mais atentos percebem que entre os dançarinos há gente de diferentes etnias e com corpos fora do padrão magro e musculoso — o que atende uma demanda atual por mais representatividade.
O artista alternava entre cantar as músicas sobre pegação em carrões como Hilux e Dodge Ram com fazer apelos ao público: "Levanta a mão só quem tem fé em Deus!"
LP ainda engatinha nos grandes festivais de sertanejo: no Caldas cantou no esquenta, já na Festa do Peão de Barretos se apresentou no palco Amanhecer, diferentemente da amiga, Ana Castela, que fez parte do line-up de todos os eventos do Circuito Sertanejo em 2023.
Ana ainda vai completar 20 anos este mês, mas se tornou a cantora mais ouvida do país em maio — pouquíssimo tempo após estourar no Brasil com o hit "Pipoco". Assim como Luan Pereira e outros nomes do chamado agronejo, se apresenta no palco com balé, dancinhas no estilo TikTok, look com chapéu, brilho, bota e cinto de fivela.
Quem assistiu à série "As Aventuras de José e Durval" (Globoplay), que conta a história de Chitãozinho e Xororó, percebe que a dupla sertaneja mais famosa do Brasil enfrentou algumas críticas (até de Inezita Barroso, coitados) por supostamente se afastar do ideal caipira no início da carreira. Agora, o caminho é o inverso: o agro, mais do que nunca, quer ser muito pop.
Embora o sertanejo seja o ritmo mais ouvido e com mais investimento no Brasil há décadas, os artistas do agronejo investem no que parece ter sido uma lacuna deixada pelo sucesso do subgênero universitário que ganhou espaço nos últimos anos: o orgulho de ter vindo da roça, de ter sido criado em meio ao gado, de saber manejar tratores e de ser um "menino da pecuária". Mas agora, mais do que nunca, se valendo de novas tendências e até se apropriando de outros ritmos, especialmente a batida do funk.
O agronejo veio para ficar? Ainda é cedo para dizer que o hype vai se manter, mas é quase impossível ir a um show de Ana Castela e Luan Pereira e não querer comprar chapéu, bota e cinto de fivela. Agro é tudo.